O que é vício? Você acha que é a droga que vicia? Vamos refletir sobre isso.
por,
Milena Mendonça - psicóloga
Pode
começar como uma brincadeira, um desafio ou simplesmente uma experiência nova.
Qualquer que seja a substância ou atividade, a freqüência e a maneira como você
se relaciona com isso é que determina se você tem um vício ou não. Cair em um
vício tem consequências muito negativas no corpo. E sobretudo, no órgão mais importante
de todos: o cérebro.
Qualquer vício pode se tornar um inimigo perigoso. Nenhuma pessoa está isenta. No entanto, nem todos ficarão viciados. Então, o que é vício?
Considera-se
que uma pessoa é viciada quando uma dependência psicológica se desenvolve, isto
é, com respeito a um comportamento repetitivo e compulsivo a uma substância ou
um hábito. Dependência psicológica e física coexistem - que é a resposta do
corpo a essa substância.
Em si, a
definição de dependência se aplica à compulsão e à repetição do uso de álcool,
nicotina, drogas opiáceas como heroína, cocaína e outros estimulantes. Mas e o
jogo, o sexo, compras, até os videogames e a internet?
Muitas
pessoas embarcam nesses comportamentos a ponto de torná-los perigosos para si
mesmos - e para suas famílias.
Então,
proponho uma mudança na narrativa do que definimos como vícios e por que devemos
combater os excessos e viver com equilíbrio. Quando nos perguntamos o que causa
o vício, a resposta parece óbvia: drogas. Mas isso não é tão simples. Uma
pesquisa super interessante fala sobre isso: Colocou-se um rato em uma gaiola
com duas garrafas de água. Uma garrafa só com água. E a outra com heroína ou
cocaína diluída. Quase toda vez que fizeram esse experimento, o rato fica
obcecado pela água com a substância e continua com esse comportamento,
consumindo compulsivamente a droga, até morrer. Daí a resposta fica óbvia:
"Uma única droga é tão viciante que nove em cada 10 ratos de laboratório
irão consumi-la, mais e mais, até a morte, ela é chamada de cocaína, e pode
fazer o mesmo com você.” Certo? Errado.
Explico:
Esse experimento, tem uma falha importante. E é que o rato está sozinho na
gaiola, ou seja, o ambiente e seu nível de conexão com ele é subtraído; a droga
é colocada em um monocentrismo, sem o "mundo". Então pesquisadores
refizeram esse experimento, construindo um parque para ratos (Rat Park).
Que seria
uma gaiola divertida em que os ratos tinham brinquedos coloridos, a melhor
comida para ratos e principalmente muitos amigos: tudo o que um rato desejaria.
Este
"Rat Park" obviamente tentou imitar um ambiente rico e estimulante (o
entorno de uma sociedade e uma cidade saudável). Os resultados mostraram, que
os ratos inseridos neste ambiente mais positivo "Em geral, eles evitaram
beber a água com a droga e consumiram menos de 1/4 das drogas tomadas pelos
ratos isolados." Nenhum morreu. Enquanto os ratos solitários tornaram-se
adictos, isso não aconteceu com qualquer um daqueles ratinhos que viviam em um
ambiente feliz.
No caso
dos seres humanos, consumir uma droga em um contexto de isolamento físico e/ou
emocional não parece ser uma causa da dependência.
Milhares
de pessoas consomem morfina no hospital e depois saem para a rua, voltam aos
seus empregos e às suas famílias e não sentem a necessidade de consumir a droga.
Muitos pacientes até tomam opióides por meses e conseguem parar essas drogas
sem passar por um estágio de dependência e depressão.
Assim,
chegamos à ideia de que o que causa o vício é a falta de conexões humanas
profundas e significativas (não as superficiais conexões que vivemos nas redes
sociais). As drogas substituem essas conexões e essa falta de vida com
significado. O professor e sociólogo Peter Cohen propõe inclusive mudarmos o
termo "vício" para falarmos de "apego".
Portanto
se você mudar a gaiola (leia-se a mente), então as drogas que o tornam tão
dependente não terão mais esse efeito. Vejo no consultório que a maioria dos
problemas de saúde são problemas de uma vida sem significado, significado que
damos aos outros, às pessoas que amamos, ao mundo que vivemos ou a nossos
propósitos de vida. Resignificando a nossa mente, nossos hábitos e nossas vidas,
cuidamos da gente e transformamos o nosso mundo.
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