A quarentena e o tempo que não passa não termina
Nessa quarentena terminei de ver a série Netflix Alemã Dark. Que final! Quanta reflexão. Compartilho com a série nessa quarentena a sensação de estar presa no tempo. No passado, no presente e no futuro. O tempo passa, mas não termina.
O início da série já nos faz refletir muito, com a frase de Albert Einstein: “A distinção entre passado, presente e futuro é apenas uma ilusão teimosamente persistente.”
Um tempo não linear, sequencial e cronológico como estamos erroneamente habituados. É um tempo circular, onde o passado e o presente se misturam, como essa quarentena vem nos ensinando.
Na Psicanálise, tanto o tempo quanto a memória só podem ser considerados no plural. Há temporalidades diferentes funcionando nas instâncias psíquicas e a memória não existe de forma simples: é múltipla, registrada em diferentes variedades de signos.
Freud, escreve sobre o tempo influenciado pela Primeira Guerra Mundial. A guerra e a sua destruição exigem o luto e nos confrontam com a transitoriedade da vida, o que permite reconhecer assim a passagem do tempo.
No entanto, no entender de Freud, a nossa atitude perante a morte não implica essa certeza. Se de um lado aceitamos que a morte é inevitável, quando se trata da própria morte tentamos matá-la com o silêncio. “No inconsciente, cada um de nós está convicto de sua imortalidade”, afirma Freud, em De guerra e morte: Temas de atualidade. Nada do pulsional solicita a crença da própria morte. Esta só se constrói secundariamente, a partir da morte dos próximos, da dor e da culpa pela mesma. Nem a própria morte nem a passagem do tempo têm registro no inconsciente, afirma Freud.
Talvez isso explique o comportamento dos brasileiros, que diferente dos outros seres humanos regidos pelo “supereu” concretizado por governanças que instituem barreiras e limites, estamos nós brasileiros, sob a liderança do “isso”, que o desejo fala e manda, sem pensar nas consequências.
Caberia então ao “eu”, entenda-se como cada um de nós, brasileiros, mediar entre o nosso desejo (isso) e o melhor moralmente ético (supereu). Infelizmente, quando não temos um “eu” funcionando equilibrademente, e seguimos convictos da nossa imortalidade, muitos outros morrerão.
E o tempo, esse tempo de Freud e de Einstein que agora entendemos pela circularidade dessa quarentena, seguirá passando sem terminar.
Positivamente em casa,
Milena Mendonça 🌻
📎 P.S.: Quarentener, assista Dark ⏳ e gratidão @canalalemanizando por me apresentarem essa maravilha de série
Comentários
Postar um comentário