A ambivalência com que os brasileiros estão lidando com a quarentena

O atual isolamento social imposto a nós brasileiros e as recomendações de sair somente qdo necessário e algumas pessoas desobedecendo essa imposição. Enquanto seus outros pares aceitam a imposição e se isolam saindo apenas quando necessário. Será sobre isso essa reflexão.

Alguns brasileiros usam a lógica, saem das suas tocas e orgulhosamente expõe seus privilégios como totens nas redes sociais. Enquanto muitos outros priorizam as origens, as famílias, a comunidade, mesmo não vendo lógica, seguem as imposições por respeito, seguem o primordial, o primitivo.

Perdemos nossa empatia, quando agimos meramente pelo nosso próprio pensamento lógico. Assim, nos distanciamos,  perdemos o vínculo.

O livro de Freud “Totem e Tabu” nos dá uma luz sobre o que está por trás disso. Em que ele faz uma analogia entre o homem primitivo, o neurótico (desenvolvido), o indivíduo, e o nós. 

E para entendermos essa nota e minhas reflexões, gostaria de colocar os significados dessas duas palavras: primitivo e desenvolvido.

Desenvolver é: desembrulhar, progredir, além do progresso tecnológico; que estendeu seus domínios psicológicos, morais, intelectuais, espirituais.

Primitivo: (vem de primeiro, de original) que é o primeiro a existir; que coincide com a origem de algo; inicial, primevo, original.

Segundo Freud, o inconsciente funciona como um homem primitivo, selvagem. Vem do instinto, universal em toda espécie. Daí ele buscou estudar A gênese na moralidade humana através da análise dos aborígenes na Austrália.

Usando Freud e esse seu escrito, o que eu gostaria de discorrer, é sobre o que é uma sociedade primitiva? E o que é uma desenvolvida?

O totem é esse dispositivo cultural que vai fazer que a sociedade primitiva se organize (pode ser um elemento da natureza, um animal, um objeto). Em cima da existência do totem é que se organiza a moral, a justiça e a família nessa sociedade, sem o uso da lógica, não existe questionamento, o culto ao totem é passado como tradição, com muito respeito. Isso ocorre em todos os grupos sociais primitivos.

Na nossa sociedade desenvolvida mantemos apenas um resquício disso. Talvez isso nos torna bem mais selvagens, a meu ver, nossos totens atualizados são os bens de consumo, são um estilo de vida esbanjador, são as coisas de uso individual. Vejo com imoralidade esses totens, atualmente, nesse momento de crise, em que muitos dos nossos pares morrem doentes ou de fome, o uso e exibição dos totens dos privilegiados, em especial nas redes sociais, ofendem.

Para Freud, a importância das interdições (dos tabus) foi o que determinou a civilidade e organização dessas culturas e sociedades. Esses tabus, proibições, não aceitam exceção, não usam a lógica, são simplesmente respeitados. Algo necessário para sermos civilizados.

Ou seja aquilo que nós temos de mais sofisticado, o ápice do desenvolvimento moral tem um pé no primitivo. É necessário um imperativo categórico de respeito as interdições, porque é importante para o coletivo. Nos vincula a ele e nos torna seres civilizados. Entendo que tais proibições contém uma ambivalência, atração e repulsão porque é uma imposição muitas vezes sem lógica.

Uma proibição, tabu, converge afetos ambíguos, mas a aceitação do tabu, por um coletivo, por uma civilização, por uma moral, nos torna desenvolvidos, civilizados. Quando decidirem questionar a atual interdição e tabu de não sair de casa, e decidirem praticar exercícios em lugares públicos, andar de lancha, comemorar em grupos seus aniversários, lembrem-se que o que nos afasta do selvagem e primitivo no pior significado da palavra é questionar o tabu civilizatório e coletivo da interdição.

Positivamente em Casa,
Milena Mendonça 🌻

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