Pacientemente - Camomila

Eu queria ser uma flor. Eu não sabia quase nada sobre “flor e ser” e sobre florescer, mas achei o trocadilho muito criativo, despertou a minha curiosidade, eu queria muito descobrir qual flor eu seria.

Queria ser tulipa, uma flor elegante, que representava sofisticação, minimalismo, e todo requinte dos jardins europeus. Queria ser Lotus, uma flor linda, simbólica e cheia de significado. Queria ser girassol, vistosa, seu ciclo inspira tanto, lembra o próprio sol, e busca sua luz. Queria ser rosa, com suas múltiplas possibilidades de cores, tão escolhida para presentear e demonstrar gratidão. Queria ser cacto, uma flor forte, resistente às intempéries, capaz de ser um oásis em meio à paisagem inóspita. Vivia essa expectativa a cada encontro.

Tal foi minha surpresa quando eu descobri que eu era chá! Camomila pra mim nunca foi flor. Lembro-me da minha vó e seus chás curativos, entre eles, o de camomila. Eu nunca fui amante de chás. Porque eu que queria ser uma flor linda, tinha que ser chá?

Esse era exatamente o processo de aceitação que eu precisava viver. Eu não precisava ser como os outros, eu não precisava me esforçar tanto para atender as expectativas, não precisava me cobrar tanto, nem me anular como costumava fazer. Eu precisava era olhar pra mim, me posicionar, e ver quão potente poderia ser chá. Hoje, eu amo ser camomila, e sei que eu não poderia ser uma flor maior, mais sofisticada, mais cheirosa, e mais todas as expectativas que eu criei. Eu precisava viver e perceber a beleza de ser quem se é!

Eu sempre fui à moça do “tudo bem!”, de voz baixa, meiga, calma. Por fora, para os outros. Minha mente, rápida, pensando e analisando possibilidades e soluções, para que tudo ficasse bem, ainda que pra isso eu não estivesse confortável. Ansiosa e introspectiva, buscando não incomodar. 

Costumo dizer que “a gente só dá, o que tem!”, e pra oferecer um chá a alguém, eu precisava primeiro bebê-lo. Assim como o chá, os sorrisos, as alegrias, o bem estar, precisava ser compartilhado. Pra isso, é necessário dividir também problemas, dificuldades, responsabilidades, pedir ajuda...Gerenciar, a ponto de equilibrar a ansiedade interna e a serenidade externa. Em pequenos goles, estou descobrindo como é potente e prazeroso ser chá. Ser uma florzinha, pequena, discreta, integra e curativa.

Pacientemente,

Allyne Amaral 





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