Anestesia



📸 Registro do pico do Fitz Roy, feito pelo meu marido. Incrível, né?


Em 2015 fiz uma viagem para a Patagônia Argentina e uma das experiências mais fantásticas que fiz, foi uma caminhada de mais de 12 horas em uma trilha montanhosa em uma natureza intocada. Vestida de roupa térmica, botas apropriadas, sentindo o frio e o sol ameno do verão na Patagônia, caminhei até o meu limite, mas sempre existia a promessa de uma paisagem ainda mais incrível, eu fascinada pela beleza do lugar, me permitia ultrapassar cada vez mais esse limite.

Até que chegou a hora de subir o pico, uma caminhada íngreme que exigia de mim experiência em montanhismo, mais do que somente minha força de vontade. Porém, existia a promessa de conhecer o lugar mais incrível do planeta. Já tinha ultrapassado meu limite algumas vezes para conhecer os outros lugares também incríveis, então acolhi meu limite e descansei meu corpo, enquanto esperava meu marido subir o pico e trazer pra mim as fotos e o seu relato da experiência.

Nessa pausa comecei a sentir meu corpo esfriar e com ele as dores de ter passado do meu limite tantas vezes, queimadura de segundo grau na cabeça, perda da unha do pé, calos e bolhas nos pés, dores em todo meu corpo.

E como tudo que sobe, um dia tem que descer, fizemos o caminho de volta, descemos a montanha, com o corpo já frio, com dores e sem a motivação de ver os lugares mais incríveis do mundo. Foi duro descer, doía até o fio do cabelo, literalmente.

Chegando no hotel, tirei a bota, a roupa térmica e deitei suja, suada e despida na cama. Automaticamente senti meu corpo inteligentemente desligar, não sentia mais a dor, não sentia alívio, não sentia prazer. Me senti sem sentir, anestesiada.

Era 31 de dezembro de 2015, essa experiência me transcendeu. 2016 seria um ano intenso pra mim, já o projetava: inauguraria a Casa Positiva, engravidaria de Enrique. Nessa noite celebramos com boa comida e "bons drinks" o novo ano cheio de realizações que viveríamos, renovados e fortalecidos.

Revisito essa "experiência Patagônica" como carinhosamente chamo, sempre que preciso. Nela experienciei a euforia de realizar, a dor da realização, e a anestesia necessária da aceitação, para em seguida viver o novo, viver de novo.


PositivaMente,

Milena 🌻

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